sábado, 27 de agosto de 2011

Malária


Paludismo, impaludismo, febre palustre, maleita e sezão, ou a conhecida malária, é uma doença infecciosa aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles.
Riscos
A malária mata 3 milhões de vítimas ao ano, uma taxa que só pode ser comparada a da AIDS, e afeta mais de 500 milhões de pessoas todos os anos. É a principal parasitose tropical e uma das mais frequentes causas de morte em crianças, mata um milhão delas, menores de 5 anos ao ano.
Transmissão
A transmissão ocorre, normalmente, em ambientes rurais e semi-rurais, mas pode acontecer em áreas urbanas, principalmente em periferias. O tempo chuvoso e as águas acumuladas das chuvas também propiciam a causa do contato com o parasita. O risco maior de aquisição de malária é no interior das habitações, embora a transmissão também possa ocorrer ao ar livre. A infecção humana começa quando um mosquito Anopheles fêmea inocula esporozoítos dos plasmódios a partir da glândula salivar durante a hematofagia.
Sintomas
A malária caracteriza-se inicialmente por sintomas inespecíficos, como dores de cabeça e no corpo, fadiga, febre alta, náuseas, sudorese, calafrios, palidez, cansaço e falta de apetite. Estes sintomas podem durar vários dias. No homem, os esporozoítos infectantes se direcionam até o fígado, dando início a um ciclo que dura, aproximadamente, seis dias para P. falciparum, oito dias para a P. Vivax e 12 a 15 dias para a P. malariae, reproduzindo-se assexuadamente até rebentarem as células deste local (no mosquito, a reprodução destes protozoários é sexuada). Mediante esse processo de amplificação (conhecido como esquizogonia ou merogonia intra-hepática ou pré-eritrocitária), um único esporozoíto produz vários merozoítos-filhos. Nas infecções por P. vivax, uma parcela das formas intra-hepáticas não se divide de imediato, permanecendo latente, na forma de hipnozoítos, por um período variável de 3 semanas a 1 ano ou mais, antes que a reprodução comece, e são a causa das recidivas das infecções. Após esses eventos, espalham-se pela corrente sanguínea e invadem hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando anemia no indivíduo. Após esse período, o doente passa por fases periódicas de calafrios e febre intensa que coincidem com a destruição maciça de hemáceas e com a descarga de substâncias imunogênicas tóxicas na corrente sanguínea ao fim de cada ciclo reprodutivo do parasita. Essas crises paroxísticas, mais frequentes ao chegar o período noturno, iniciam-se por conta da subida da temperatura até 39/40°C. São seguidas de palidez na pele e fortes tremores por cerca de 15 minutos e podem chegar até 1 hora. Depois, os tremores param e a febre permanece por seis horas a 41°C, seguida de vermelhidão na pele e suores abundantes. Passados esses sintomas, o doente sente-se perfeitamente bem até a crise seguinte, dois a três dias depois.
Malária Maligna
Se a infecção for de P. falciparum, denominada malária maligna, podem ocorrer sintomas adicionais mais graves como: choque circulatório, síncopes (desmaios), convulsões, delírios e crises vaso-oclusivas. A morte pode ocorrer a cada crise de malária maligna. Pode chegar, também, a chamada malária cerebral: a oclusão de vasos sanguíneos no cérebro pelos eritrócitos infectados causa défices mentais e coma, seguidos de morte (ou déficit mental irreversível). Problemas renais e hepáticos graves aparecem pelas mesmas razões. As formas causadas pelas outras espécies (benignas) são apenas debilitantes, ocorrendo raramente a morte.
Crises
Os intervalos entre as crises paroxísticas são diferentes conforme a espécie. Nos casos de P. falciparum, P. ovale e P. vivax, o ciclo da invasão de hemácias por uma geração, multiplicação interna na célula, hemólise (rompimento da hemácia) e invasão pela nova geração de mais hemácias dura 48 horas. Normalmente, há acessos de febre violenta e tremores no primeiro dia e, passadas as 48 horas, já no terceiro dia, há novo acesso, classificado de malária ternária. A detecção precoce de malária quaternária, em que o novo sintoma de febre ocorre no quarto dia, é importante, pois esse tipo pode não ser devido a P. falciparum, portanto, menos perigoso.
Precauções
Ainda não há uma vacina eficaz contra a malária, há apenas estudos de alcance reduzido sobre testes de uma vacina sintética desenvolvida por Manuel Elkin Patarroyo, em 1987. Nos últimos tempos, o uso de inseticidas potentes, porém tóxicos, proibidos no ocidente, tem aumentado por conta de os riscos da malária serem muito superiores aos do inseticida. O uso de redes contra mosquitos é eficaz na proteção durante o sono, quando ocorre a grande maioria das infecções. Cremes repelentes de insetos também são úteis. A roupa deve cobrir a pele o mais completamente possível durante o dia. O mosquito não tem tanta tendência para picar o rosto ou as mãos, onde os vasos sanguíneos são menos acessíveis, enquanto as pernas, os braços ou o pescoço possuem vasos sanguíneos mais acessíveis. A drenagem de pântanos e outras águas paradas é uma medida de saúde pública eficaz.
Tratamento
O tratamento farmacológico da malária baseia-se na susceptibilidade do parasita aos radicais livres e substâncias oxidantes, morrendo em concentrações destes agentes inferiores às mortais para as células humanas. Os fármacos usados aumentam essas concentrações. A quinina, um medicamento antigamente extraído da casca da Cinchona, ainda é usada como tratamento. No entanto, a maioria dos parasitas já é resistente às suas ações. Ultimamente a artemisinha, extraída de uma planta chinesa, tem dado resultados encorajadores. Ela produz radicais livres em contacto com o ferro, que existe especialmente na hemoglobina, no interior das hemáceas, onde se instala o parasita. É extremamente eficaz em destruí-lo, causando efeitos adversos mínimos. No entanto, as quantidades produzidas hoje são insuficientes.
Estudos
Em 2010, pesquisadores israelenses desenvolveram um açúcar tóxico, batizado como attractive toxic sugar bait (ATSB), para eliminar o mosquito transmissor da malária. Os testes foram realizados em uma região semi-árida do Mali e demonstraram a eficácia na redução de mosquitos de ambos os sexos em até 90%.
Diagnóstico
O elemento fundamental no diagnóstico clínico da malária, tanto nas áreas endêmicas como não-endêmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença. Como a distribuição geográfica da malária não é homogênea, nem mesmo nos países onde a transmissão é elevada, torna-se importante, durante o exame clínico, resgatar informações sobre a área de residência ou relato de viagens de exposição ao parasita como nas áreas tropicais. Além disso, informações sobre transfusão de sangue, compartilhamento de agulhas em usuários de drogas injetáveis e transplante de órgãos, podem sugerir a possibilidade de malária induzida. O diagnóstico de certeza da doença só é possível através da demonstração do parasito ou de antígenos relacionados no sangue periférico do paciente, através dos métodos abaixo:
  • Gota espessa – método adotado oficialmente no Brasil para o diagnóstico da malária. Mesmo após o avanço de técnicas diagnósticas, este exame continua sendo um método simples, eficaz, de baixo custo e fácil realização. A técnica baseia-se na visualização do parasito, retirado como amostra da ponta do dedo do paciente, e visualizado através da microscopia ótica, após uma coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), o que permite a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise morfológica, e pelos estágios de desenvolvimento do parasito encontrados no sangue periférico.
  • Esfregaço delgado – possui baixa sensibilidade (estima-se que, a gota espessa é cerca de 30 vezes mais eficiente que o esfregaço delgado na detecção da infecção malárica). Porém, é o único método que permite, com facilidade e segurança, a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise morfológica e das alterações provocadas no eritrócito infectado.
  • Testes rápidos para detecção de componentes antigênicos de plasmódio – são testes imunocromatográficos, que representam novos métodos de diagnóstico rápido de malária. Realizados em fitas de notrocelulose, contendo anticorpo monoclonal contra antígenos específicos do parasito. Apresentam, também, sensibilidade superior a 95% quando comparado à gota espessa, e com parasitemia superior a 100 parasitos/µL.

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